I - O fato hipotético
Imaginemos uma partida de futsal. O jogo transcorria normalmente, até que seu time perdeu um gol incrível, daqueles que irão fazer uma falta considerável na apuração do resultado final, já que perder por 13 a 0 é muito menos vexatório do que perder por 14 a 0.
Não bastasse tal acontecimento, o time adversário, imbuído em aumentar o escore deveras dilatado, e com uma vontade inerente a qualquer atleta que joga uma final de copa do mundo, arranca em direção ao seu campo de forma inescrupulosamente voraz.
Até o momento, tudo parece perdido... Parece!
II – O senso de coletividade
Você, inconformado com a iminência de mais um gol em desfavor de seu segundo time do coração, e com uma perspicácia coletiva inimaginável em outros esportes que não o futebol, levanta-se e parte desesperadamente em direção ao seu campo de defesa.
Embora nada pareça mais claro e consumado que o gol do adversário, assim como a conseqüente derrota momentânea do orgulho pessoal de cada jogador do seu time, você corre como nunca, chegando a ouvir seu inconsciente gritar: “run Forest, run”!
III – A defesa
Em frações de segundo, o atacante adversário dribla o goleiro do seu time e, quando já está quase correndo para os braços da torcida imaginária, chuta para o gol vazio...
De repente, você – assim como um guerreiro tribal – dá um carrinho transcendental e salva aquilo que parecia já concretizado, levando ao delírio todos os outros quatro jogadores do seu time. Afinal, em uma visão otimista, de dar inveja até mesmo à minha mãe (diga-se de passagem, a pessoa mais otimista do Universo), não há mais gol a lamentar, e sim uma defesa a comemorar.
IV – A dúvida
Ao se jogar em direção à bola, lamentavelmente, as marcas da batalha evidenciam-se em seu corpo. Sua perna fica machucada. Seu calção, como uma armadura amassada, rasga-se... Enfim, efeitos colaterais da força de vontade.
Como não poderia ser diferente, perguntas emergem dos fatos mencionados, destacando-se as seguintes:
Se você soubesse que iria se machucar, teria salvo aquele gol?
Ou, ainda, se você soubesse que o fato de salvar aquele gol em nada mudaria o resultado da partida, você o salvaria mesmo assim?
V – Conjecturas
De fato, fazer um gol é algo incrível, indescritível. Para alguns, o que há de melhor nesse mundo. Para alguns, não para mim (registre-se). Porém, por vezes, aquilo que era para ser algo imensurável, acaba por não se mostrar tão belo, seja pelo implícito egoísmo de quem faz o gol ou daquele que o pretendia fazer.
A defesa, diferentemente, traduz a comemoração mais pura de um lance de futebol. Todos os jogadores, sem exceção, comemoram a defesa de um “quase-gol”, que dirá de um gol praticamente consumado, hábil a ensejar a humilhação semanal do seu time.
Mais do que isso, inunda os jogadores de uma garra até então deixada de lado, o que resulta num esforço coletivo desumano em busca da vitória impossível, pelo menos na situação acima proposta.
Gratificante saber que um lance defensivo, antagônico ao objetivo primordial de uma partida de futebol, qual seja, a concretização do gol, é dotado de uma beleza surpreendente.
Diria, finalmente, que mais prazeroso é a possibilidade de filosofar sobre algo tão paradoxalmente simplório e denso. Penso que tudo na vida se resume a isto: Simplificar torna tudo mais fácil, porém complicar torna tudo mais legal.
Imaginemos uma partida de futsal. O jogo transcorria normalmente, até que seu time perdeu um gol incrível, daqueles que irão fazer uma falta considerável na apuração do resultado final, já que perder por 13 a 0 é muito menos vexatório do que perder por 14 a 0.
Não bastasse tal acontecimento, o time adversário, imbuído em aumentar o escore deveras dilatado, e com uma vontade inerente a qualquer atleta que joga uma final de copa do mundo, arranca em direção ao seu campo de forma inescrupulosamente voraz.
Até o momento, tudo parece perdido... Parece!
II – O senso de coletividade
Você, inconformado com a iminência de mais um gol em desfavor de seu segundo time do coração, e com uma perspicácia coletiva inimaginável em outros esportes que não o futebol, levanta-se e parte desesperadamente em direção ao seu campo de defesa.
Embora nada pareça mais claro e consumado que o gol do adversário, assim como a conseqüente derrota momentânea do orgulho pessoal de cada jogador do seu time, você corre como nunca, chegando a ouvir seu inconsciente gritar: “run Forest, run”!
III – A defesa
Em frações de segundo, o atacante adversário dribla o goleiro do seu time e, quando já está quase correndo para os braços da torcida imaginária, chuta para o gol vazio...
De repente, você – assim como um guerreiro tribal – dá um carrinho transcendental e salva aquilo que parecia já concretizado, levando ao delírio todos os outros quatro jogadores do seu time. Afinal, em uma visão otimista, de dar inveja até mesmo à minha mãe (diga-se de passagem, a pessoa mais otimista do Universo), não há mais gol a lamentar, e sim uma defesa a comemorar.
IV – A dúvida
Ao se jogar em direção à bola, lamentavelmente, as marcas da batalha evidenciam-se em seu corpo. Sua perna fica machucada. Seu calção, como uma armadura amassada, rasga-se... Enfim, efeitos colaterais da força de vontade.
Como não poderia ser diferente, perguntas emergem dos fatos mencionados, destacando-se as seguintes:
Se você soubesse que iria se machucar, teria salvo aquele gol?
Ou, ainda, se você soubesse que o fato de salvar aquele gol em nada mudaria o resultado da partida, você o salvaria mesmo assim?
V – Conjecturas
De fato, fazer um gol é algo incrível, indescritível. Para alguns, o que há de melhor nesse mundo. Para alguns, não para mim (registre-se). Porém, por vezes, aquilo que era para ser algo imensurável, acaba por não se mostrar tão belo, seja pelo implícito egoísmo de quem faz o gol ou daquele que o pretendia fazer.
A defesa, diferentemente, traduz a comemoração mais pura de um lance de futebol. Todos os jogadores, sem exceção, comemoram a defesa de um “quase-gol”, que dirá de um gol praticamente consumado, hábil a ensejar a humilhação semanal do seu time.
Mais do que isso, inunda os jogadores de uma garra até então deixada de lado, o que resulta num esforço coletivo desumano em busca da vitória impossível, pelo menos na situação acima proposta.
Gratificante saber que um lance defensivo, antagônico ao objetivo primordial de uma partida de futebol, qual seja, a concretização do gol, é dotado de uma beleza surpreendente.
Diria, finalmente, que mais prazeroso é a possibilidade de filosofar sobre algo tão paradoxalmente simplório e denso. Penso que tudo na vida se resume a isto: Simplificar torna tudo mais fácil, porém complicar torna tudo mais legal.
3 comentários:
kkkkk, "efeitos colaterais da força de vontade", "Simplificar torna tudo mais fácil, porém complicar torna tudo mais legal".
Muito bom!
E eu que pensava que era só um bando correndo atrás de uma bola. Dá até prá imaginar um livro ou artigo ou disciplina de filosofia: Fundamentos epistemológicos da base filosófica do futebol segundo Aristóteles.
Super básico : - )))
como normalmente acontece: acompanho o belo texto do relator.
Ademais, creio que, das duas uma: ou não compreendi direito, ou há um equívoco no placar do jogo depois da perda do gol: "perder por 13 a 0 é muito menos vexatório do que perder por 14 a 0" creio que você quis dizer que perder de 13 a 0 é menos vexatório que perder por 13 a 1.
no mais, sei que só quem vivenciou tal situação dita hipotética(rasgando o calção e ralando a perna, de forma nada literal, lietralmente falando) é capaz de filosofar sobre ela.
abração.
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