Quinta-feira, dia 23/12, minha avó materna faria aniversário. Completaria 86 anos, se não me falha a memória.
Ela tinha mal de alzheimer e faleceu no início deste ano, após muito lutar contra a doença.
Sempre que penso nela, lembro de muitas coisas. Das balas de hortelã que sempre mantinha em sua bolsa (as quais conquistavam toda e qualquer criança), do seu jeito doce, de suas sonecas fora de hora no sofá.
Das vezes que dava comida escondida para o cachorro, da sua magnífica schimier (geleia) de figo, entre tantas outras coisas boas.
Ela tinha um cheiro característico de vó, que remonta à infância. Basta fechar os olhos para senti-lo.
Como li outro dia na coluna do David Coimbra, colunista da Zero Hora, era uma avó clássica, dessas que todo mundo quer.
Podia muito bem ser um desses netos ingratos e me apegar ao fato de que ela não se lembrava mais de mim nos últimos anos de vida, mas jamais seria egoísta a tal ponto. Aliás, pedir a uma pessoa com Alzheimer que se lembre do neto que só vê uma vez por ano é quase um disparate.
Teve uma época que ela ficou lá em casa algum tempo cuidando de mim e da minha irmã, quando éramos crianças. Sempre conto que ela me obrigava a ir para o colégio usando "botas de gaúcho", para não gastar o tênis... Na época, odiava tal fato. Hoje, só tenho a agradecê-la por mais uma história que tenho para contar.
Minha avó, sem dúvidas, fez um ótimo trabalho ao criar minha mãe e minha tia. Tanto é verdade que estas duas, por sua vez, repetiram o aprendizado e criaram muito bem seus filhos.
Somente uma pessoa especial seria capaz transformar suas filhas em pessoas igualmente especiais. Não é verdade?
Lembro que, no enterro dela, o ex-marido da minha tia Rúbia pediu para alguém proferir algumas palavras em sua homenagem. Confesso que tive muita vontade de me habilitar, mas como não sou bom em discursos, acabei recuando. Minha timidez, infelizmente, impediu-me de homenagear alguém muito especial.
Passado já algum tempo de sua morte, então, resolvi fazer esta singela homenagem. Talvez seja pouco, eu sei, mas é o que passo fazer. Parabéns, querida vó! Desejo-lhe felicidade eterna!
A terra pode ter perdido uma pessoa esquecida, mas o céu ganhou alguém espetacular.