Márcio tinha uma queda por sua chefe. Queda não, um abismo. Um desejo sexual exacerbadamente forte e enlouquecedor.
Fazia quatro meses que trabalhavam lado a lado em um escritório de advocacia situado na zona oeste do Rio de Janeiro.
Ela, no auge dos seus 33 anos, era a advogada chefe e fundadora do escritório que mantinha com outras duas sócias. Ele, com 22, era um simples e mortal estagiário contratado para ajudá-la no que preciso fosse.
Márcio fazia o tipo boa pinta. Costumava agradar o público feminino sem precisar fazer muito esforço. Um conquistador nato.
Confiante que era, acredita que sua chefe o desejava. Não tinha toda aquela convicção, era verdade, mas achava que ela emitia claros sinais nesse sentido.
Numa terça-feira chuvosa, bastante parecida com todas as outras daquele verão carioca, ele e sua chefe precisaram ficar sozinhos no escritório até mais tarde.
Naquela noite em especial, Fátima - sua chefe - trajava uma roupa deveras sensual. Uma roupa ousada demais para uma advogada criminalista, pensou ele.
Desde que começara a estagiar ali, jamais havia visto sua chefe com vestes tão pecaminosas, tão sensuais. Ela parecia mais um pecado com pernas. E que pernas...
Fátima não era uma mulher qualquer, mas sim uma semi-deusa travestida de defensora da lei. Uma concorrente desleal quando o assunto era beleza e charme.
Quando ela trazia o código penal consigo, então, parecia ainda mais irresistível aos olhos do seu subordinado. Era do costume de Márcio alimentar fantasias com sua chefe e o compêndio de leis criminais que vivia carregando.
Não fazia o tipo menininha. Fazia, pelo contrário, o tipo Mulherão, com "M" maiúsculo e tudo.
Márcio sentia o suor escorrer em suas costas a cada cruzar de pernas de sua chefe. Era doloroso demais vê-la e não poder tocá-la. Doloroso demais...
Estavam sozinhos no escritório. Precisavam terminar as alegações finais de um processo criminal de um cliente famoso. Um traficante graúdo.
Após mais de vinte quatro laudas, terminaram enfim a longa petição que os mantinha no escritório até aquela hora.
Quando Márcio, o estagiário, fez menção de levantar-se, foi sumariamente interrompido por Fátima. Esta, sem a menor cerimônia, colocou a mão sobre a coxa de seu subordinado e a apertou de leve.
Em seguida, olhou para Márcio e disse a frase mais clichê possível em um momento como aquele:
- Está quente hoje, não?
Márcio sentiu um arrepio ganhar-lhe o corpo. Não sabia o que havia acontecido para que sua chefe se comportasse daquela maneira. Enrubesceu instantaneamente.
Então, boquiaberto com o que acabara de ouvir, pensou que deveria tomar uma atitude. Mostrar do que era feito.
Num rompante sem precedentes na história da humanidade, deu um pulo da cadeira e pegou o paletó que se encontrava esticado sobre o sofá. Tudo sob o olhar atento e pecaminoso de Fátima, que se encontrava quase deitada na cadeira e com o dedo esquerdo na boca.
Em seguida, disse para sua chefe com uma firmeza duvidável:
- Venha, vamos tomar um chopp! Hoje está muito quente mesmo!
Fátima ficou estupefata com o convite de Márcio. Disse baixinho para si mesma:
- Não fazem mais estagiários como antigamente...
- O que você disse? – questionou-lhe Márcio.
- Você está demitido! Saia daqui agora! - bradou a advogada.
- Mas... Mas o que foi que eu fiz?
- Nada - respondeu-lhe a chefe. - Absolutamente nada...
Um comentário:
Estes contos darão um outro livro hein, uma coletânea de contos. Imagino que isso já é idéia sua, e por isso talvez, passou a produzir tais.
Abraços...
ouvindo Miles Davis.
leiam sobre nosso tempo em
http://iganhoffman.blogspot.com
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