Foto: myinsanemirror.blogspot.com
Dudu havia conhecido Lúcia há dois ou três meses. Não eram próximos, mas ambos tinham grandes amigos em comum.
Numa gélida noite de sábado, mais especificamente em uma reunião armada na casa de um desses amigos, ambos acabaram trocando olhares pretensiosos.
Ele não tinha qualquer certeza acerca das intenções dela, mas sabia que a forma como Lúcia havia lhe encarado fugia do padrão "amigos". Foram poucos, porém intensos segundos de olhares cruzados.
Dudu era casado há 7 anos. Estava, digamos assim, longe de ser uma pessoa feliz.
Lúcia, por outro lado, era solteira. Estava sempre se embrenhando em romances destinados ao insucesso. Seus pseudo-amores eram quase sempre impossíveis e irreais.
Ocorre que Dudu havia se encantado com aquele olhar inaudito. Não mais conseguia conceber a ideia de viver sem tão belos olhos. Assim, resolveu arriscar.
Em um raro momento de distração de sua esposa, seguiu Lúcia até o banheiro, que era um pouco afastado do salão de festas. Sem ao menos pensar nas possíveis consequências de seu gesto, segurou-a pelo braço e pôs-se a falar sobre os efeitos perpetrados por seu olhar. Descreveu suas sensações com uma sinceridade ímpar, como jamais fizera ao longo dos seus 34 anos.
Após alguns segundos, Lúcia confessou-lhe que de fato havia olhado-o com intenções secretas - as quais manteve em segredo. No entanto, com todo cuidado que lhe era inerente, explicou que um possível romance entre eles era praticamente impossível.
Em seguida, virou-lhe as costas e voltou para o salão.
Desolado, Dudu também voltou para a festa. A passos lentos, dirigiu-se triste para os braços da esposa.
No decorrer da confraternização, percebeu que Lúcia não parava de olhá-lo. Riu da ironia. Maldita vaidade, pensou.
No mês seguinte, Lúcia foi obrigada a mudar-se para uma cidade distante. Para seu particular desespero, nunca mais a viu depois daquela noite. Nunca mais.
Soube por intermédio dos amigos que ela tinha uma conta numas dessas tantas redes sociais e, desde então, passou a segui-la silenciosamente.
Até hoje, sempre que lê as frases escritas por ela, um sentimento estranho lhe invade sorrateiramente. Certo ou errado, sempre tem a sensação que as metáforas de Lúcia referem-se àquele curto interregno de tempo que seus olhares se cruzaram.
E com toda a certeza que somente um homem desiludido pode ter, soube que nunca mais receberia um olhar como aquele. Um olhar carinhoso, sincero e pecaminoso. Enfim, um olhar completo...
Um comentário:
Um gesto tão simples, ms que deixa transparecer tantos sentimentos, tantos desejos, emoções, palavras...
Eu, particularmente, sou fã e adepta desses olhares cruzados.
faz toda a diferença.. rsrs
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