sexta-feira, 1 de julho de 2011

Prefiro não lembrar

Foto: designufmg.blogspot.com

Marina estava decidida. Ainda naquela noite, iria tomar seu primeiro porre.

Ao longo dos seus 23 anos, jamais havia se embriagado a valer. No máximo, havia ficado um pouco tontinha, mas nada exagerado.

Sempre ouvia suas amigas contando sobre seus porres inacreditáveis e tudo mais, de modo que precisava experimentar aquelas sensações o quanto antes.

De uma forma estranha, queria fazer parte daquele mundo particular que suas amigas tanto se orgulhavam.

Sua principal intenção, no entanto, era colocar a prova essa história de que os bêbados não lembram de nada no outro dia, porquanto nunca acreditou nesse ladainha.

Ligou para Cláudia e contou sobre o porre. A amiga, que era quase uma alcoólatra, apoiou a ideia aos pulos.

Então, logo que saiu do trabalho, Marina passou no supermercado. Para positivar seu intento, precisava antes abastecer-se.

Deixou os fermentados de lado e correu para o setor de destilados.

Como ficou em dúvida acerca de qual bebida levar, optou pela velha e boa vodka. As histórias de suas amigas, inexoravelmente, sempre tinham vodka no meio. Sempre.

Chegou em casa por volta das oito e meia da noite. 

Tomou um banho rápido e correu para a cozinha. Havia chegado, enfim, a hora de tomar seu primeiro porre.

Marina abriu a garrafa de vodka e deu um longo suspiro. Precisou de apenas um gole para perceber que não conseguiria beber muito daquela forma. 

Vodka pura é para russos, pensou.

Então, preparou seis caipirinhas. Colocou-as lado a lado. 

Como um alcoólatra, começou a beber uma atrás da outra.

Já no fim da segunda, começou a sentir-se leve. Tudo acompanhado de muitos risos, é claro.

- Amanhã vou me lembrar de tudo - disse em voz alta para si mesma.

No final da terceira, sentia-se confusa. Estava entrando no estágio da embriaguez.

No entanto, Marina estava firme no seu propósito. Iria beber até ficar podre. 

Bebeu a quarta, a quinta e, enfim, a sexta, o suficiente para que ficasse completamente transtornada.

Ao mesmo tempo em que ria descontroladamente, chorava de soluçar.  

Agora, aos gritos, continuava a dizer: - Amanhã vou me lembrar de tudo! Tudinho!

Durante o tempo que ficou em estado de transtorno completo, fez coisas inacreditáveis. 

Em resumo, jogou baldes de água nos pedestres, vomitou na sacada do andar de baixo, chamou seu vizinho de porta de panaca e quase saiu no braço com a síndica do prédio. Um total disparate.

Até que se levantou para preparar mais uma caipira e caiu com tudo perto do sofá, local em que ficou até o outro dia pela manhã.

Só foi acordada pelo ressoar ininterrupto do telefone.

- Alô - disse Marina com a voz grave e arrastada.

- Oi, Marina. Sou eu, a Cláudia - disse a voz do outro lado. - Está tudo bem?

- Está, sim.

- E então... Como foi?

- Como foi o quê? - perguntou Marina, antes de limpar seu rosto coberto de baba.

- O porre? Você não ia beber todas ontem?

- Ah! Claro, o porre...

- Como foi? Lembra de alguma coisa?

- Não lembro de nada.

- Não lembra mesmo? - insistiu a amiga.

- Na dúvida, prefiro não lembrar - respondeu Marina. - Prefiro não lembrar...


4 comentários:

Alyson Antunes disse...

Do meu primeiro porre eu não esqueço jamais. Sem camiseta, deitado no chão, com o estômago revirando. E as estrelas girando. Nesse dia eu literalmente vi o mundo girar. hahaha. Cada coisa que a gente passa.

Abraços.

Raquel disse...

Hahahaha, muito bom, Kelvim! Ri demais!

Abraço!

Danni Barbosa disse...

Pense numa vontade que nunca tive...

rsrsrs

E vodka é horrível. Experimentei uma vez pra NUNCA mais! haha
O máximo que eu tomei foi rum com coca (que botei pra fora) e vinho ( o menos pior).. mas com 2 copos eu comecei a rir por qualquer coisa. Me retirei pra dormir e fui ligar para o ex.... ô desgraça esse álcool... kkkkkkkkkkkkkk

Rodolfo Pomini disse...

Fez bem ela em não tentar lembrar. rsrs