Foto: chicletedecarnemoida.blogspot.com
Carlos Eduardo era um cara bem normal. Normal até demais, como costumavam dizer seus avós.
Tinha 31 anos e jamais havia se apaixonado por uma mulher até aquela fatídica terça-feira, véspera de feriado.
Estava descendo a escadaria do prédio dos correios quando viu Amanda pela primeira vez. Para ser exato, quando viu o pescoço de Amanda. Isso mesmo, o pescoço.
Carlos não fazia o tipo tarado, daqueles que ficam procurando pescoços desnudos pela web, longe disso. E jamais havia se apaixonado por uma parte específica de uma mulher, tal qual ocorrera naquela terça.
Como disse, era um cara normal. Era.
O belo pescoço de Amanda, no entanto, havia mexido com seus brios.
A sensação que lhe acometia era tão intensa que sentia como se tivesse sido arrancado do seu centro gravitacional.
Carlos, então, resolveu agir. Afinal, por mais insano que parecesse, não mais conseguia vislumbrar um futuro sem aquele irresistível pescoço.
De supetão e seguindo seus instintos, convidou-a para sair. Após relutar um pouco, o pescoço aceitou o convite, ou melhor, a dona dele.
Amanda gostou da abordagem divertida de Carlos Eduardo, o qual não mencionou nada a respeito do que realmente motivara o convite.
Foram a um restaurante chique, localizado num bairro nobre da cidade onde moravam.
Carlos Eduardo quase teve um orgasmo solitário quando viu Amanda chegar ao restaurante com o cabelo preso. Apenas alguns fios caíam por sua nunca desnuda, provocativa.
Simplesmente, não conseguia parar de olhar para o pescoço dela.
Amanda sabia que havia algo errado com seu companheiro, mas não sabia precisar exatamente o quê. Então, achou melhor aguentá-lo por mais algumas horas e dar o fora.
Após alguns minutos de um silêncio constrangedor, Carlos pediu licença e foi até o banheiro.
Na volta, sem a menor cerimônia, chegou sorrateiramente por trás de Amanda e mordeu seu pescoço de leve, o bastante para que esta desse um pulo da cadeira.
- Você mordiscou meu pescoço? - perguntou ela, atônita.
- Sim - respondeu Carlos, sóbrio. - Não consegui resistir ao seu pescoço.
- Você é algum tipo de tarado? - Amanda perguntou novamente.
- Suponho que sim. Um tarado de pescoços, para ser mais exato - respondeu , sorrindo.
Irresignada, Amanda levantou-se bruscamente da cadeira e gritou alto o suficiente para que todos os clientes do restaurante ouvissem:
- Seu doente!
Após, girou-se sobre seu salto agulha e levou seu pescoço embora consigo.
Carlos Eduardo, por sua vez, era apenas sorrisos. Jamais esqueceria aquela mordiscada.
Sua felicidade não se resumia àquele ato isolado, mas ao fato de que havia descoberto, enfim, uma verdadeira paixão.
Daquela noite em diante, seria um novo Carlos Eduardo. Em resumo, um homem em busca de pescoços.
- Pescoços, aguardem-me - disse Carlos para si mesmo em voz baixa. - Aguardem-me!
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