Foto: joaquimevonio.com
Destruidora de corações: era esta a expressão que melhor definia Renata.
Não fazia de propósito, mas sempre acabava deixando os homens (e até mesmo algumas mulheres) aos seus pés. Às vezes, literalmente.
Renata orgulhava-se de possuir uma voz rouca. Uma voz um pouquinho mais grave que a maioria.
Havia lido um estudo em que os especialistas afirmavam que mulheres detentoras dessa característica eram mais seguras de si e, consequentemente, mais sensuais que as demais.
Dona de uma personalidade forte, arrasava corações sem aviso prévio. Seu charme era tamanho que nem mesmo seus amigos escapavam dos seus astutos encantos.
Pedro era um desses amigos. Fazia quase cinco anos que amargava uma doce e silente paixão por Renata, sua amiga.
No entanto, por um desses sobressaltos de lucidez que temos a cada ano bissexto, achou que estava na hora de declarar-se para Renata. Abrir o jogo, como dizem alguns.
Como todo apaixonado, temia por sua sanidade. Rejeitado, talvez. Covarde, jamais.
Então, embuído de uma coragem quase transcendental, pegou o telefone em mãos e discou o número de sua amiga. Tremia a cada ressoar da chamada.
- Oi - disse Renata, com sua voz rouca e sensual.
Nos minutos seguintes, Pedro falou-lhe sobre seus sentimentos com uma sobriedade invejável para alguém apaixonado. Havia escolhido a forma errada, é verdade, mas ainda sim havia se saído bem.
Conseguiu convencê-la a um jantar a dois, em sua casa, naquela mesma noite.
Animado com a possibilidade de ter uma noite excepcional, preparou o melhor ambiente possível.
Renata chegou à casa de Pedro irresistivelmente linda. Transpirava pecado por todos os poros como somente uma mulher como ela seria capaz de fazer.
Trajava um vestido preto e curto, que além de decotado, deixava suas pernas torneadas à mostra.
Ouriçado, Pedro tentou diversas investidas durante a noite, todas sem sucesso. Até que, por puro e simples desespero, resolveu apelar.
- Por favor, Renata, dê-me apenas uma chance... Prometo que lhe farei a mais feliz das mulheres.
- E o que te faz pensar que daria certo? - perguntou ela.
- Somos amigos. Vamos nos dar muito bem - respondeu Pedro de súbito.
Nesse momento, um silêncio gritante tomou conta do ambiente. Pedro estava excitado e ansioso para ouvir a resposta.
Então, após alguns segundos de suspense, Renata reclinou-se na direção do amigo vagarosamente.
Pedro sentiu o corpo quente dela comprimir-se junto ao seu e teve a certeza que era um homem de sorte. Um homem de muita sorte.
Renata, contudo, colou sua boca carnuda no ouvido de Pedro e disse-lhe baixinho com sua voz rouca:
- O problema é justamente esse, querido. Somos muito amigos.
- Mas... - Pedro tentou protestar.
- Muiiiiiito amigos... - completou ela com sua voz rouca.
Em seguida, levantou seu corpo escultural e foi embora. Tudo sob o olhar impávido de Pedro, que não conseguia acreditar no que havia acabado de acontecer.
Depois daquela noite, nunca mais foi o mesmo homem, porquanto sabia que jamais conseguiria viver sem aquela mulher.
Sem a dona daquela voz. E que voz...
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