- Não o amo mais - disse ela de forma seca e inesperada.
João quase se afogou com o sorvete de flocos ao ouvir as duras palavras que saíram da boca de sua noiva.
- Que brincadeira de mau gosto é essa, Sandra? - perguntou ele, nervoso.
Sandra, contudo, não esboçou qualquer reação que indicasse estar brincando. Mais do que inerte, era a própria definição da palavra impávida.
- É sério, Sandra. Que brincadeira é essa?
- Não estou brincado - respondeu ela, enfim.
João conhecia sua noiva como ninguém - ou pelo menos era nisso que acreditava até aquele momento -, de modo que sabia que ela, definitivamente, não estava brincando. Largou o sorvete.
- Aconteceu alguma coisa? - perguntou-lhe o noivo. - Seja o que for, podemos resolver...
Sandra, porém, retirou parte da franja que lhe cobria os olhos e disse friamente:
- A verdade é que não o amo mais. Só isso.
- Como assim só isso, Sandra? Não sei se você se lembra, mas nós vamos nos casar daqui a três dias. Três dias... Tá lembrada?
- Não vai mais haver casamento - disse Sandra antes de dar um sorriso tão irônico que até mesmo Leonardo da Vinci seria incapaz de reproduzi-lo.
Uma lágrima rolou pelo rosto de João sem piedade. Depois outra. Em seguida, um balde delas.
- POR QUÊ??? - voltou a perguntar João, agora aos berros. - O que foi que eu fiz, afinal?
Sandra sorriu, agora com mais ênfase.
- Por que você está sorrindo, sua maluca? Eu não fiz nada!
- É exatamente esse o seu problema João. Você nunca faz nada. N-A-D-A! - repetiu ela de forma pausada e em letras garrafais.
- Você está sendo injusta comigo! Eu sempre dei o meu melhor...
- Injusta nada - disse ela. - A única coisa que você sabe fazer direito nesta vida é comer sorvete de flocos. Aliás, não aguento mais vê-lo comendo sorvete de flocos. Não aguento mais!
Inconsolável, João foi para sua casa soluçante. Precisava ficar sozinho.
Assim que entrou em sua residência, jogou-se sobre o sofá. Precisava pensar numa solução para o seu problema. Contudo, após muita reflexão, nada lhe veio à mente. Absolutamente nada.
João, então, levantou-se e caminhou em direção ao freezer. Abriu a porta retirou lá de dentro dois potes de sorvete: um de flocos, outro de morango.
Em seguida, com uma força quase sobre-humana, jogou o pote de flocos no lixo.
Enquanto voltava ao sofá com uma colher e o sorvete de morango em mãos, disse para si mesmo com uma convicção que jamais tivera antes em sua vida:
- FLOCOS, NUNCA MAIS! Nunca mais!
Um comentário:
Acredita só tive olhos para o sorvete, rsss
Bjs
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