sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Jonas, o apaixonado.

http://2.bp.blogspot.com

Jonas era FISSURADO em sua chefe. Arrastava não só um caminhão por ela, mas um frota inteira.

Já havia pensado diversas vezes em se declarar, mas sempre desistia antes mesmo de tentar.

No mínimo, acaso não fosse correspondido, perderia o seu emprego.

A forma que tinha de agradar a chefe - recheada de terceiras intenções, claro - era trabalhar mais que os outros funcionários.

Doava-se ao emprego como ninguém. Tudo por amor, por um amor platônico e silente.

Numa quarta-feira pela manhã, contudo, viu sua sorte mudar.

Ana, sua chefe, adentrou em sua sala com um olhar diferente, insinuante. Sem rodeios, parou ao seu lado e disse-lhe com a voz o mais aveludada possível:

- Passa lá em casa hoje à noite, às 20h... Hoje é o teu dia de sorte.

Em seguida, virou-se nos seus saltos altos e foi embora com um andar nada vacilante.

Jonas sentiu seu corpo estremecer. Não conseguia acreditar naquilo que acabara de ouvir.

Finalmente, todo seu esforço haveria de ser recompensado. Afinal, estava há apenas algumas horas de possuir a mais incrível das mulheres - a bela e irretocável Ana.

Ana, no auge dos seus 30 anos, tinha pernas compridas e pra lá de delineadas. Estas, somadas aos seus cabelos louros e cacheados, conferiam-lhe um visual arrasador.

Tanto que Jonas não era o único a desejá-la com ardor. Pelo contrário, na empresa onde trabalhava, a exceção era não desejá-la, tal seu poder de sedução.

Talvez por isso Jonas não aguentava mais esperar pela noite que se aproximava. Ele precisava daquela mulher, e como precisava. Até porque havia trabalhado muito para isso, literalmente.

À medida que as horas passavam, no entanto, Jonas foi ficando cada vez mais nervoso. A beleza e o charme em excesso de sua chefe intimidavam quem fosse.

Engoliu em seco pela primeira vez quando viu sua chefe ir embora duas horas antes do habitual. Tão-logo ela saiu pela porta do escritório, recebeu uma mensagem em seu celular, cujo texto dizia:

"Não se esqueça do nosso jantar... Prometo-lhe uma noite mágica. Beijos, Ana".

Jonas sorriu. E depois estremeceu. E voltou a sorrir. E tornou a estremecer.

Passado o susto, foi correndo para casa aprumar-se para a janta de logo mais. Precisava corresponder às expectativas.

Com o intuito de impressioná-la, vestiu sua melhor calça, sua melhor camisa, seu melhor perfume, a melhor versão do seu eu.

Bateu à porta da casa de Ana na hora marcada. Sabia que havia chegado, enfim, o seu grande momento.

Sua chefe - como se fosse possível - estava ainda mais estonteante que o normal.

Meus deus... - pensou Jonas assim que a viu.

- Entre - disse ela com uma voz de felina.

Jonas entrou a passos firmes. Em segundos, o nervosismo deu lugar à confiança. Afinal, aquela era a sua noite, e de mais ninguém.

Beberam vinho e conversaram, não necessariamente nesta mesma ordem.

Até que Ana levantou-se e disse-lhe:

- Chamei você aqui para lhe dar uma coisa... Aquilo que você está perseguindo incansavelmente há alguns meses - completou.

Jonas engoliu em seco pela segunda vez naquele dia. Quando fez menção em dizer algo, foi interrompido por sua chefe, que ordenou:

- Não fale nada, apenas observe...

Naquela fração de segundo, Jonas imaginou Ana levando suas mãos às costas e tirando o vestido...

Sua chefe, contudo, com um leve sorriso no rosto, limitou-se a jogar uma pasta sobre a mesa de centro.

Nada de vestindo caindo, nada de ter Ana em seus bracos, enfim, nada do que Jonas havia imaginado.

- O que é isso? - perguntou enquanto apontava para a pasta.

- A promoção que você tanto queria... - respondeu Ana. - Finalmente, todo seu trabalho está sendo recompensado - completou ela, feliz.

Jonas respirou fundo.

- Então era isso? - perguntou ele. - Uma promoção?

- Claro! - respondeu Ana, empolgada. - O que mais poderia ser?

Sem dizer uma única palavra, Jonas pegou suas chaves e foi embora em silêncio.

Já na rua, Jonas não parava de repetir para si mesmo em voz alta:

- Uma promoção?! Que absurdo! Que absurdo...

sábado, 22 de setembro de 2012

A iminência da morte

Foto: http://misteriosfantasticos.blogspot.com.br

A ideia da mortalidade em si é assustadora. Sempre foi.

Convenhamos que é difícil aceitar que um dia as pessoas que amamos partirão desta vida. Se é que já não partiram. 

Ou o fato de que nós mesmos, um dia, também alcançaremos a finitude...

A morte, por mais triste que seja, alcança a tudo e a todos de uma hora para outra, sem qualquer distinção. 

E é justamente isso que deixa tudo muito mais assustador.

De repente, numa terça-feira chuvosa qualquer, você se engasga com uma empada e parte desta vida de inopino.

Por que eu? - perguntará você à Morte.

Por que não? - responderá ela com um sorriso de Monalisa estampado nos lábios.

Por mais paradoxal que pareça, morrer faz parte da vida.

Vivo, logo morrerei.

-----------------------------

Sempre pensei que a iminência da morte deveria nos fazer viver com mais ímpeto, mais intensidade. Mas sabemos que não é bem assim que as coisas funcionam.

Enterros, por exemplo, são o termômetro perfeito. Afinal, quem nunca se colocou no lugar do falecido e perguntou para si mesmo de forma silenciosa: E se tivesse sido eu?


A verdade é que a morte nos cerca por todos os lados. Basta um deslize e capluft, lá se foi mais uma vida.


A questão é: sua vida está valendo a pena?

-------------------------------------------

Dias atrás, fui ao enterro do avô da minha esposa.

Muito embora todos tenham ficado tristes, senti algo diferente no ar. Uma sensação de leveza difícil de descrever.

É que morrer cedo sempre foi e sempre será algo deveras triste. Já, morrer tarde, talvez.

As pessoas que o cercam sabem quando você viveu com dignidade e, mais do que tudo, se você aproveitou a vida a contento.

E, quando isso acontece, a morte soa mais como uma despedida temporária do que como um adeus.

Foi o que senti naquele dia. 

-----------------------------------------------------------

Não podemos mudar a condição morte, mas podemos mudar todo o resto. Só depende de nós e do tempo que nos resta.

Lembre-se: a Dona Morte pode bater à sua porta a qualquer momento. Então, faça valer a pena.

----------------------------------------------------------------------

Alguém está tocando a campainha neste exato momento... Desejem-me sorte (risos).

Aquele abraço.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Olhos artificiais


Sinto saudade de quando meus olhos funcionavam a todo vapor sem qualquer auxílio artificial.

Da época em que não precisava de um par de lentes para fazer coisas simples como ler as legendas de um filme qualquer.

Ou de recostar a cabeça sobre o braço do sofá sem ter que me preocupar em entortar uma armação que praticamente se tornou uma extensão do meu corpo, do meu ser.

Tanto que alguns dias atrás acabei entrando debaixo do chuveiro ainda com as lentes em frente aos olhos.

Algo bizarro e, convenhamos, deveras engraçado.

Para falar a verdade, nem lembro mais de como era quando ainda tinha a visão perfeita, de quando achava que enxergava tal qual um falcão, e olha que não faz tanto tempo assim que comecei a usar óculos.

O pior de tudo é essa dependência dos óculos. Sem exagero, é o primeiro objeto que procuro logo que acordo e o último que dispo quando vou deitar.

É um tanto surreal depender de um utensílio criado exclusivamente para fazê-lo enxergar melhor.

Outra coisa ruim são as situações embaraçosas que nossos óculos nos colocam quando não os usamos.

Sempre que vou à academia, por exemplo, acabo confundindo as pessoas por não conseguir enxergar seus rostos a ponto de identificá-las.

Não raro, passo por mal educado, esquecido, mala, metido etc.

Confesso que não gosto dessas situações, mas as aceito com mais naturalidade do que há alguns anos atrás. É como se fosse um preço pequeno a pagar por voltar a enxergar a contento novamente.

No fim das contas, os óculos não são o inimigo, mas a salvação. 

Mais um aliado nesta vida em que enxergar é preciso.