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Augusto sempre teve um gosto diferente quando o assunto era mulheres. Um gosto, digamos, nada convencional.
Por conta disso, sofria nas mãos dos amigos, os quais insistiam em tirar sarro de suas predileções sem qualquer piedade.
Como muitos por aí, gostava de mulheres gordinhas rondando a casa dos 40 anos. Algo comum, não fosse pelo fato de que Augusto tinha apenas 25 anos.
Certa feita, enquanto se gabava de ter passado a noite com uma gordinha de idade relativamente avançada, os amigos quase o mataram com suas brincadeiras.
Esse era praticamente o resumo de sua vida.
Até que uma cirurgia para retirada de amígdalas - que era para ser de rotina - fez com que sua vida tomasse outro rumo.
Curiosamente, assim que Augusto recobrou-se da intervenção cirúrgica, sentiu-se um tanto diferente. Não sabia precisar o quê, mas algo havia mudado. Podia sentir.
Então, enquanto refletia a respeito, surpreendeu-se olhando para o derrière de uma enfermeira jovem e magra que passou pelo corredor.
Estranhou sua atitude, afinal, gostava de mulher roliças. Acabou atribuindo seu comportamento heterodoxo à quantidade de remédios para dor que havia ingerido.
Dias mais tarde, porém, quando já estava totalmente recuperado da cirurgia, Augusto notou que seu gosto por mulheres continuava diferente. Bastava passar por uma jovem e magra para ficar todo arrepiado.
- Mas o que diabos está acontecendo comigo? - perguntava-se o tempo todo, em pensamento.
Assim que contou a notícia aos amigos, estes puseram-se a rir freneticamente. Não aceitavam o fato de que o gosto de Augusto havia sofrido mudança tão brusca.
E, por incrível que pareça, os amigos, agora, riam do seu gosto por esbeltas.
Nos meses que se sucederam à intervenção cirúrgica, Augusto até tentou se aventurar com algumas gordinhas de outrora, mas nenhuma delas despertou seu desejo.
Tudo o que passava pela sua cabeça eram mulheres jovens e magras. Nem mais, nem menos.
Sua mudança de gosto gerou uma tristeza tão grande que praticamente virou um candidato em potencial à depressão.
Até que numa quarta-feira de outono, avistou Laura - uma roliça colega de trabalho que habitava seus pensamentos desde sempre - jantando em seu restaurante favorito.
Sabia que se havia uma mulher nesse mundo capaz de libertá-lo daquilo que passou a chamar de "a maldição das amígdalas", essa mulher era a farta e opulenta Laura.
Na dúvida, decidiu arriscar a sorte. Até porque se obtivesse sucesso em sua investida, sua vida voltaria ao normal. Ao jeito que sempre gostou.
Então, a passos firmes e confiantes, atravessou o salão e parou em frente à mesa de Laura. Em seguida, olhou-a dos pés à cabeça.
Para sua tristeza, a única coisa que sentiu foi uma vontade enorme de mandá-la parar de comer como um avestruz.
Desanimado, foi embora sem dizer uma única palavra.
Sabia que, doravante, estava fadado a se interessar por mulheres belas e jovens.
- Que saudade das minhas amígdalas - disse para si mesmo com a voz embargada. - Que saudade...
Um comentário:
Querido Kelvim, saudades!
Que história, tadinho do Augusto, rsss
isso nos faz ver que nosso intimo pode nos induzir a pensar que não temos capacidade de mudar, mas é preciso querer e procurar também renovar a nossa forma de pensar, nesse caso o rapaz não tentou, deixou-se dominar pelo "hábito".
Feliz sabado para você,
Abraço fraterno
Nicinha
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