sábado, 9 de março de 2013

O professor apaixonado...


Foto: pedagogiauvaibrapes.blogspot.com.br

Rafael sabia que estava ferrado como jamais estivera. 

Com 42 anos recém completados, lecionava história na Universidade Federal do Estado. E por mais que a educação neste país seja um instituto desvalorizado, esse estava longe de ser o seu maior problema.

Sua aflição tinha um nome composto: Ana Maria. Conhecida nas redondezas como a bela, arrebatadora e inalcançável Ana.

Ana Maria seria apenas mais uma de suas devotas alunas da faculdade não fosse uma única peculiaridade: Rafael estava perdida e dolorosamente apaixonado por ela.

Sentia-se o próprio Sr. Holland do filme Adorável Professor, de modo que se encontrava momentaneamente sôfrego.

Nunca, nos seus anos de magistério, havia se deixado levar por uma paixonite ou coisa parecida. E, acima de tudo, sempre respeitou muito suas alunas, cuja faixa etária variava de 20 a 23 anos.

Desta vez, no entanto, havia sido fisgado como um peixe faminto. E a bela Ana Maria era o anzol. 

Ocorre que Ana era uma dessas mulheres inatingíveis, cuja beleza chega a ser intimidadora. Exclusivamente por conta disso, imaginava que não tinha a menor chance com ela.

Sofreu em segredo durante boa parte do semestre, até que em mais uma de suas famosas aulas sobre o contestado, numa brincadeira habitual, involuntariamente, acabou deixando transparecer seus sentimentos aos demais alunos da classe. 

Daquele dia em diante, era só o professor entrar na sala para que os alunos começassem a cochichar

Embora receoso com uma possível represália por parte da coordenação do curso de história, Rafael sabia que estava chegando o dia de externalizar seus sentimentos por Ana Maria. 

Afinal, não queria ser mais um desses homens que enlouquecem por conta de uma paixão mal resolvida.

A verdade é que preferia ser rejeitado a ser covarde.

Então, na penúltima aula do semestre, pediu a Ana Maria - diante da presença de todos os outros alunos - que lhe esperasse após o sinal. Queria lhe falar em particular.

Seu pedido antecedeu um mar de risadas e conversas paralelas, uma vez que todos imaginavam qual era a real intenção do professor. 

Surpreendentemente, assim que todos deixaram a classe, Ana lançou um olhar que demonstrava reciprocidade ao interesse do professor, o suficiente para que se sentisse intimidado.

Rafael, mesmo sendo um cara otimista, não esperava que uma mulher como Ana pudesse se interessar por um professor de história de 42 anos.

Mas foi exatamente o que aconteceu. Exatamente!

Tanto que não acreditou quando Ana, com um olhar de pantera, disse-lhe:

- Eu sei que você me quer, professor... Eu sei...

- Como é que é? - retrucou Rafael, incrédulo.

- Não se faça de bobo... - respondeu ela. - Que tal irmos para um lugar mais reservado? - completou.

Rafael engoliu em seco. Estava deveras aturdido com a proposta feita pela aluna.

Então, para sua própria surpresa e desagrado, desconversou e disse-lhe que não fazia ideia do que ela estava falando.

Esquivou-se com o argumento de que apenas queria lhe parabenizar pelo último trabalho realizado.

Em seguida, pegou sua pasta e foi embora da Universidade o mais rápido possível.

À noite, já deitado em sua cama, na tentativa de tentar se convencer de que havia agido certo, em meio a uma espécie de tremedeira transcendental, não parava de repetir baixinho para si mesmo:

- Aquela mulher era demais pra mim... D - E - M - A - I - S...

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