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Já fazia algum tempo que Maurício estava encantado por Renata, uma de suas colegas de estágio que detinha um belo par de olhos negros.
Todos na empresa, invariavelmente, já haviam percebido que Maurício estava literalmente de quatro por sua colega, inclusive a própria Renata.
Renata, aliás, parecia estar gostando de exercer esse papel de mulher venerada.
Os colegas de trabalho de Maurício, por outro lado, alertavam-no a todo instante acerca do perigo que estava correndo ao tentar se envolver com a bela e, aparentemente, recatada Renata.
Insistiam na tese de que Maurício iria sair com o coração dilacerado desse relacionamento que sequer havia iniciado.
Tanto que a frase que mais se ouvia na empresa era "aquela dos olhos negros vai machucar seu coração".
Maurício, por sua vez, dava de ombros aos avisos dos colegas; mesmo porque, estava aficionado por aquela mulher e faria de tudo para tê-la em seus braços antes que acabasse seu estágio, cujo fim se aproximava a passos largos.
Assim, resolveu intensificar os ataques. Era tudo ou nada.
De repente, então, qualquer coisa era motivo para Maurício puxar uma conversa, encostar a mão no ombro de sua colega, buscar uma xícara de café, dentre outros tantos atos (friamente calculados) praticados na tentativa de conquistá-la.
E nem mesmo os mais pessimistas dos colegas, que diziam que Renata era mulher demais para ele, conseguiram demovê-lo da ousada ideia.
À medida que o tempo passava, contudo, Maurício ia ficando cada vez mais sôfrego. Afinal, por mais esforços que envidasse, não conseguia sair do zero a zero.
A questão é que Renata dava corda ao seu colega - até demais -, mas acabava sempre recuando no momento final, o que ia minando as intenções de Maurício pouco a pouco.
Até que chegou o fim de seu estágio e, com ele, o dia em que Maurício, não aguentando mais o "chove não molha", abriu seu coração aos colegas mais próximos.
Falou, em apertada síntese, num misto bizarro de agonia e felicidade, que Renata estava lhe consumindo como nenhuma outra.
Um de seus colegas, então, colocou a mão sobre seu ombro e, de uma forma nada reconfortante, perguntou:
- Nós avisamos que aquela dos olhos negros iria machucar seu coração, não avisamos?
- Avisaram... - respondeu Maurício, um tanto triste, um outro tanto conformado.
E completou: - Pior que avisaram...