Eduardo sabia que estava em apuros. Contudo, isso não o impedia de prosseguir; afinal, a iminência do desastre era justamente o que o motivava.
O desastre, no caso, tinha um nome. Para ser mais exato, um nome composto: Maria Ângela.
Maria, que de anjo não tinha nada, era a antítese de seu correspondente bíblico.
Praticamente, um pecado com pernas, cujas formas eram belas o bastante para atormentar quase que a totalidade das pessoas que trabalhavam na vigilância sanitária de um município do oeste do Estado.
Eduardo, por outro lado, era o típico homem médio: Nem belo, nem feio; Nem gordo, nem magro; Nem rico, nem pobre.
Em suma, médio como um homem médio deve ser.
Tão mediano que ninguém sabia como era casado, muito embora sua esposa pudesse ser definida como o paradigma da feiura.
E, por algum motivo em especial, Maria Ângela se encantou por Eduardo, o que despertou a curiosidade de todos seus colegas.
Essa curiosidade se dava em parte por Maria jamais ter se interessado por um colega, em parte porque o alvo era o insosso Eduardo.
O que a bela Maria Ângela havia visto nele, afinal?
Até mesmo as demais colegas de Eduardo, que sequer conversavam muito com ele antes do repentino interesse de Maria, acabaram se revelando curiosas.
Da noite para o dia, concluíram que havia algo de especial naquele homem, só faltava descobrir o quê.
Antes que isso acontecesse, contudo, Maria Ângela - munida de toda sua exuberância - foi ao ataque.
Nem mesmo uma leoa na savana faria frente à obcecada Maria Ângela.
Para encurtar a história, Maria agarrou Eduardo num happy hour na frente de todos os colegas, não poupando nem mesmo a chefia que, extraordinariamente, fazia-se presente naquela noite.
O fato, como não podia ser diferente, causou furor. De um jeito ou de outro, mexeu praticamente com todos que ali estavam.
O mais afetado, porém, foi o próprio Eduardo.
A verdade é que Eduardo ficou burro apaixonado, mas tão burro, que acabou perdendo o bom senso. Junto com ele, a esposa, o emprego e quase todo o resto.
Só não perdeu Maria Ângela que, até os dias de hoje, se refestela com ele após incessantes noites de amor.
E quando um ex-colega o encontra na rua e pergunta se valeu a pena mudar toda sua vida por causa de uma única mulher, Eduardo sempre responde exatamente a mesma coisa:
- Você não faz ideia, meu amigo! Você não faz ideia...
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