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- Preciso de um feiticeiro – foi a primeira coisa que Rubens disse tão logo Aderbal, seu melhor amigo, entrou no bar.
- Como assim? – perguntou Aderbal, um tanto surpreso com a
frase dita por Rubens, que, até onde conhecia, era cético o bastante para
rechaçar qualquer coisa parecida.
Rubens, então, num misto de animação e sofreguidão, disse:
- Estou apaixonado, meu caro.
- A – P – A – I – X – O – N – A – D – O! – repetiu Rubens,
como se estivesse naquele programa de gosto duvidoso chamado soletrando.
Inicialmente, Aderbal pôs-se a sorrir. Poucos milésimos de
segundos depois, contudo, perguntou:
- Apaixonado por quem?
- Pela Marta, da contabilidade – respondeu Rubens.
- Mas como isso aconteceu?
- Lembra daquele churrasco que fizemos na casa do Aroldo no
ano passado? Na beira da piscina e tal... Lembra?
- Lembro – disse Aderbal.
- Então... nunca mais fui o mesmo depois daquele churrasco.
Lembro como se fosse hoje quando vi a batata da perna da Marta pela primeira vez – completou Rubens, pouco
antes de dar um longo suspiro.
- Batata da perna? – perguntou Aderbal com cara de quem não entendeu direito.
- É... batata da perna... Panturrilha! Saca?
Em seguida, Rubens emendou: - A verdade é que, depois que vi a
batatinha da perna da Marta, acabei me apaixonando por ela... não sei dizer o porquê, mas aquela panturrilha foi demais para
mim... E, desde então, não consigo fazer outra coisa senão pensar nela... é
tipo uma maldição...
- Por isso o feiticeiro? – perguntou Aderbal, sorrindo.
- Exato.
- Mas, afinal, qual o problema de você se apaixonar pela batata da perna da Marta? –
tornou a perguntar Aderbal, ainda sorrindo.
- Sou casado, lembra? – respondeu Rubens, de bate pronto.
- Você está apaixonado por uma batata da perna. E, até
onde sei, isso não é tecnicamente uma traição – ponderou o amigo, como se quisesse amenizar sua culpa.
- Pode até ser - respondeu Rubens, balançando a cabeça.
Porém, após alguns poucos segundos, disse:
- Só tem um pequeno problema... tenho certeza que minha mulher não vai gostar nada nada dessa coisa de se apaixonar pela batata da perna alheia. Tenho certeza...
- Ao feiticeiro, então? - perguntou Aderbal.
- Ao feiticeiro! - respondeu Rubens.
E completou: - Mas tem que ser dos bons! - Dos bons!
- Ao feiticeiro, então? - perguntou Aderbal.
- Ao feiticeiro! - respondeu Rubens.
E completou: - Mas tem que ser dos bons! - Dos bons!
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