Todos os dias quando acordo, acontece a mesma coisa. Sempre.
Dirijo-me à cozinha e dou de cara com a minha catiora que, invariavelmente, está com aquela carinha do "gato de botas".
Aquela carinha de quem diz: "tu não vai passear comigo seu filho da puta?"
[Perdoem-me pelo palavrão, mas tentei ser o mais realista possível]
Prontamente, então, olho para ela e digo em voz alta (sim, eu falo com a minha cachorra): "Calma, lindinha, já vou passear contigo".
Digo isso e penso: Antes, contudo, vou tomar um café descansado. Eu mereço.
Mas a minha catiora sempre fica lá, junto à porta, me olhando com aquela carinha triste. Aquele semblante de cachorro abandonado.
Na clara tentativa de me chantagear, ela chega a virar a cabeça de lado. Juro.
E isso sempre faz com que eu sucumba ao desejo impulsivo do bichano. Em resumo, deixo o café de lado e lá vou eu passear com a catiora, com ou sem fome.
Há quem considere isso um ato de amor. Pode até ser.
Mas sempre penso que isso é uma prova cabal de que não estou pronto para ser pai. É que, se fizer isso com uma criança - realizar todos os seus desejos -, é certo que virará uma usuária de crack com 12 anos (risos).
Brincadeiras à parte, a verdade é que não resisto ao chorinho da minha catiora.
Então, nada me resta senão passear com ela pelos arredores do meu prédio logo cedo, o que é bem engraçado.
Afinal, não é muito comum um cara barbudo passear com uma cachorra peludinha e cheio de laços, sobretudo envolta por uma coleira rosa.
Tenho certeza que isso chama um pouco a atenção das pessoas.
Mas questão é que a cachorra me faz bem demais. DEMAIS.
E se passear logo cedo com ela, mesmo antes do café, é uma forma de retribuir todo esse bem, por que não o fazer?
No fim das contas, deveríamos reger nossas vidas assim: através da reciprocidade.
Simples assim.
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