Pedro estava apaixonado.
Mais do que isso, estava inebriado, embasbacado, atordoado.
Não havia sufixo "ado" capaz de dar conta de sua atual e precária condição.
Em bom português: Pedro estava "fudido".
E como não poderia ser diferente, ele tinha plena consciência disso.
Eram inúmeros os sinais. Dentre eles, o que mais lhe chamava a atenção, era o fato de estar aéreo, distante.
Não prestava atenção em nada. Absolutamente nada.
Tudo o que fazia - e o que queria fazer - era ficar pensando em Alice, "a dama da sua desgraça".
Ocorre que aquilo começou a consumir-lhe por dentro.
Afinal, por mais interessante que fosse aquele sentimento, era também corrosivo e angustiante como somente uma paixão pode ser.
Pedro, porém, estava começando a dar sinais de cansaço. Sem dúvidas, estava sucumbindo à enxurrada de hormônios produzida por seu corpo.
E isso o motivou a tomar uma decisão: iria contar tudo a Alice.
Não o tinha feito antes, por óbvio, por medo de ser rejeitado.
Até porque, se uma paixão dói, o que dizer de uma "paixão não correspondida"?
Sem muitas voltas, então, revelou tudo a Alice.
Contou das noites mal dormidas, do tempo que havia perdido pensando nela, das horas e horas gastas olhando para o horizonte, do fato de estar extremamente aéreo, de se sentir extremamente atordoado, dos calafrios, palpitações, etc.
Contou tudo, tudinho.
E, como num conto de fadas, Alice se apaixonou de volta no ato.
Sim, ela se apaixonou exatamente naquele instante.
Não foram as palavras de Pedro as responsáveis por isso, tampouco as "hipérboles desmedidas".
Foi o brilho no olhar.
Não havia mulher neste mundo capaz de sair ilesa daquele brilho deliberado e fulminante que Pedro trazia consigo nos olhos.
Não mesmo.
Pedro a olhava com vontade.
Agora, eram dois os apaixonados. Duas pessoas a sofrerem os doces males desse arrebatamento resumido precariamente pela palavra "paixão".
Apaixonar-se pode ser algo cruel, mas nem sempre.
Nem sempre...
Nenhum comentário:
Postar um comentário