quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Aposto que...

Hoje pela manhã, enquanto fazia compras num mercado relativamente "super", acabei ouvindo sem querer parte da conversa de duas funcionárias do estabelecimento.

Um início de frase, em especial, chamou-me a atenção, a clássica e arrogante afirmação: "aposto que ela disse...".

A funcionária cujo nome não faço a menor ideia mencionou isso, obviamente, com aquele tom natural de deboche, comumente acompanhado de uma boca torta e uma careta estranha o suficiente para mostrar seu descontentamento aos estranhos que como eu por ali passavam. 

E o som que sucedeu a malfadada afirmação, não menos previsível, foi algo parecido com um "nhenhenhenhem".

O suficiente para que minha deficitária lista mental de compras fosse interrompida por um imediatismo mais voraz que uma dose de tequila.

Então, em meio aos poucos tipos de queijos à venda no local (avisei que o super não era tão "super" assim), pus-me a refletir um pouco sobre o assunto.

Em resumo, fui tomado pelo bom e velho "tenho que escrever sobre isso".

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ALERTA! Hoje, estou um pouco mais abstrato do que o de costume. Não digam que não avisei.
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Ora, convenhamos que achar que sabemos o que uma pessoa disse ou não na nossa ausência, ainda que a conheçamos intimamente, como o verbo impõe, não passa de um exercício de "achismo". 

O próprio "aposto" incrustado na frase, sem qualquer cerimônia, sugere isso.

Contudo, temos que admitir que esse exercício é bem comum. Acredito que boa parte de nós, ainda que inconscientemente, assim proceda.

Não?

Maldita mania de emitir julgamentos aleatórios sobre tudo e todos.

"Aposto" (é mais ou menos disso que estou falando) que a psicologia deve ter alguma explicação satisfatória sobre o assunto. Algo no sentido de que projetamos nossos sentimentos e inquietações no próximo ou coisa parecida.


Ocorre que, embora essa consciência toda seja um bom início, ela, sozinha, não nos ajuda muito.

No máximo, sentiremos uma culpa passageira após emitirmos o "aposto" da vez.

Nada que não se dissolva bem rápido entre um "aposto" e outro.

O negócio, então, pelo menos ao que me parece, é tentar melhorar como ser humano. 

Em outras palavras, tentar deixar os "apostos da vida" de lado.

Difícil? 

Difícil.

Porém, ao que tudo indica, a melhor saída.

Pelo menos, é nisso que aposto.

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