Era o olhar de derrubar impérios que distinguia Manu das demais mulheres.
Mesmo sem fazer qualquer força, seus olhos desgraçavam vidas masculinas. Por vezes, femininas também.
Seus olhos estavam um degrau acima do que conhecemos por perfeição.
Assim como uma xícara de café quente numa manhã de terça chuvosa no inverno do planalto catarinense, eram deveras convidativos.
Raros eram os homens que não sucumbiam àquele par de olhos de aspecto tão denso.
Seu olhar era de uma beleza tão avassaladora que chegava a ser intimidante.
Manu, por óbvio, estava ciente da força estrondosa de seu olhar, sobretudo quando usado de forma deliberada.
Palavras eram desnecessárias. Bastava pôr os olhos em alguém de forma proposital e ganhar seu coração.
Por isso, e por um pouco de pena também, evitava olhar os homens diretamente nos olhos.
Tudo que ela menos precisava era de mais um homem apaixonado em seu encalço.
Já havia dezenas deles por aí. Centenas, talvez.
Manu sentia-se uma espécie de Medusa dos tempos modernos que amolecia corações ao invés de torná-los de pedra.
Até que um dia, por ironia do destino, foi Manu quem se encantou por alguém. Mais precisamente, por Pedro, seu novo vizinho.
O problema é que Pedro parecia imune aos seus olhares dilacerantes.
Olhares que, em condições normais de temperatura e pressão, fariam um homem médio chorar.
Certo dia, após muito esforço, Manu conseguiu convencer Pedro de saírem. Estava decidida: iria arrasar o coração daquele homem tal como estava acostumada fazer.
Então, quando sentados frente a frente, já munidos de uma taça de vinho cada, Manu não poupou esforços e lançou seu olhar mais intenso. Seu olhar mais fulminante.
Não funcionou.
De pronto, sentiu-se impotente diante de situação tão peculiar.
Aos poucos, então, o olhar de Manu foi cedendo lugar à tristeza.
E aquela mulher irresistível, de repente, passou a ter um olhar lânguido, um olhar bem diferente de outrora.
Manu, agora com a confiança abalada, sentia-se apenas mais uma mera mortal.
Seu olhar não derrubava mais os homens, quiçá impérios.
Tristes olhos os de Manu.
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