Não sou fumante, tampouco tenho a pretensão de me tornar um.
Ainda assim, confesso-lhes que tenho uma certa inveja de quem fuma.
Não do cheiro intragável, claro - sem trocadilhos de qualidade duvidosa, por favor.
Tenho inveja é do estilo.
Estilo, aliás, talvez tenha sido o principal motivo que fez com que as pessoas virassem fumantes na década de 70.
A geração dos meus pais não me deixa mentir.
Tanto que alguns deles continuam estilosos (e se matando aos poucos) até hoje.
Como diz uma amiga: rindo, mas com respeito.
Até porque, o "se matando", como se sabe, é uma questão de ponto de vista. Nós, não fumantes, o fazemos com outras coisas menos escrachadas.
Estou mentindo?
Mas a coisa que mais me dá inveja, na verdade, é a pseudosserenidade que o fumante passa aos demais mortais.
Na próxima vez que você ver "um fumante", o que, convenhamos, é quase um xingamento nos dias atuais, repare bem:
Ele pode estar na situação mais estressante que existe, como em uma entrevista de emprego, por exemplo.
E o que ele faz? Demonstra insegurança?
Não!
Ele, sem qualquer cerimônia, pede licença e vai até a rua fumar seu cigarro, assim como costuma fazer em todos os outros dias do ano.
Então, lá, parado, e olhando para o horizonte, exibe uma pseudosserenidade de dar inveja a um leão na savana.
Pseudo porque, certamente, está uma pilha de nervos por dentro.
É aquela velha história do pato na lagoa...
Em cima da água, calmaria; embaixo, pés a mil por hora.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.
Como diria Zé Ramalho, "Freud explica".
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