quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Tenho inveja de quem fuma

Não sou fumante, tampouco tenho a pretensão de me tornar um.

Ainda assim, confesso-lhes que tenho uma certa inveja de quem fuma.

Não do cheiro intragável, claro - sem trocadilhos de qualidade duvidosa, por favor.

Tenho inveja é do estilo

Estilo, aliás, talvez tenha sido o principal motivo que fez com que as pessoas virassem fumantes na década de 70.

A geração dos meus pais não me deixa mentir.

Tanto que alguns deles continuam estilosos (e se matando aos poucos) até hoje.

Como diz uma amiga: rindo, mas com respeito.

Até porque, o "se matando", como se sabe, é uma questão de ponto de vista. Nós, não fumantes, o fazemos com outras coisas menos escrachadas.

Estou mentindo?

Mas a coisa que mais me dá inveja, na verdade, é a pseudosserenidade que o fumante passa aos demais mortais.

Na próxima vez que você ver "um fumante", o que, convenhamos, é quase um xingamento nos dias atuais, repare bem:

Ele pode estar na situação mais estressante que existe, como em uma entrevista de emprego, por exemplo. 

E o que ele faz? Demonstra insegurança? 

Não! 

Ele, sem qualquer cerimônia, pede licença e vai até a rua fumar seu cigarro, assim como costuma fazer em todos os outros dias do ano.

Então, lá, parado, e olhando para o horizonte, exibe uma pseudosserenidade de dar inveja a um leão na savana.

Pseudo porque, certamente, está uma pilha de nervos por dentro.

É aquela velha história do pato na lagoa...

Em cima da água, calmaria; embaixo, pés a mil por hora.

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Como diria Zé Ramalho, "Freud explica".


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