domingo, 29 de março de 2020

A condição - CAPÍTULO FINAL

Marcelo foi logo contando tudo aos amigos antes mesmo de a primeira rodada de chopes aportar à mesa.

Seus olhos - os olhos nunca mentem - o denunciavam. 

Mesmo a distância, era possível perceber que, naquela mesa de bar, havia um homem encantado.

O segredo compartilhado sob juras de sigilo, contudo, não demorou muito a se espalhar.

Um dos amigos contou a outro, que contou à esposa, que contou a uma amiga, que contou a um primo, que namorava a melhor amiga de Márcia, que contou tudo a esta.

Em menos de uma semana, a vizinha de Marcelo já estava ciente do vazamento do agora ex-segredo.

Márcia, que a essa altura também se encontrava apaixonada, ficou possessaMais do que qualquer outra coisa nesta vida, detestava promessas quebradas.

Então, tal como havia prometido a seu vizinho, com a frieza de uma geladeira e a delicadeza de uma motosserra, rompeu o laço que havia se criado entre eles.

E, daquele dia em diante, mesmo contra tudo o que sentia, nunca mais olhou Marcelo nos olhos. 

Nunca mais.

Marcelo, sem ao menos se dar ao trabalho de disfarçar, ruiu feito um suflê retirado do forno antes da hora.

Estava sofrendo. 

Desta vez, porém, não mais pela doce angústia inerente à paixão

Por saber que, por mais esforços que envidasse, jamais haveria de conquistar outra Márcia.

Até porque, nesta dimensão, não existia outra mulher igual.

Márcia era incomparável.

Incomparável.

Azar do Marcelo, sorte dos demais mortais.

Coisas da vida.


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"This is the end, my only friend, the end" (FIM).

sábado, 28 de março de 2020

A condição - CAPÍTULO 5

Aquela, claro, foi apenas a primeira vez que se encontraram.

A química que sequer desconfiavam ter praticamente impunha uma continuidade. 

Não se tratava mais de uma questão de escolha.

Então, aos poucos, passaram a se ver com mais frequência

Uma, duas, três vezes na semana, tudo para o deleite de Marcelo, que ainda continuava incrédulo com o fato de estar se relacionando com uma mulher que julgava inalcançável.

Com o passar dos dias, aquela paixonite primaveril e adolescente que nutria por sua vizinha, como não poderia ser diferente, passou a ganhar corpo.

E, quando menos se deu por conta, estava completamente apaixonado por Márcia. COMPLETAMENTE.

Marcelo encontrava-se demsasiadamente sôfrego. Sem dúvida,  o dicionário não possuía uma palavra mais adequada para descrevê-lo.

Só havia um único problema (sempre há um problema).

Não aguentava mais carregar o fardo de não poder contar aos outros o motivo de tanta felicidade.

Queria compartilhar com o mundo, a qualquer custo, o porquê desse sorriso que carregava estampado no rosto dia após dia.

Mesmo porque, que graça teria envolver-se com a mais incrível das mulheres se ninguém pudesse saber disso?

Resolveu por bem, então, marcar um chope com dois de seus melhores confidentes e, enfim, contar tudo o que vinha lhe acontecendo nos últimos quatro meses.

Estava decidido, iria descumprir, deliberadamente, a única condição imposta por Márcia.

Marcelo não TINHA que contar alguém, ele PRECISAVA contar a alguém.

CONTINUA... 






sexta-feira, 27 de março de 2020

A condição - CAPÍTULO 4

Marcelo resolveu por bem dar uma última analisada na semideusa que invadira a sala de seu apartamento.

Sabia que aquela seria a última vez que iria vê-la com os tristes olhos de quem nunca teve a chance de tocá-la.

Nesse ínterim, Márcia o olhava com certa curiosidade. 

Imaginava que seu vizinho seria mais afoito, sobretudo diante de tudo que havia ouvido de seus amigos.

De qualquer forma, ali parada sob o sol que rasgava a janela do apartamento, explodia em beleza.

Até a extemporânea árvore de natal parecia estar interessada em Márcia, tamanho o magnetismo daquela mulher. 

Ainda vestido, Marcelo aproximou-se.

Nem uma escola de samba carioca seria capaz de acompanhar a cadência de seu coração naquele momento.

Num movimento certeiro, então, levantou os cabelos de Márcia e passou-lhe a beijar o pescoço, agora também desnudo.

Márcia, mais interessada que nunca em seu vizinho, retribuiu tentando beijá-lo na boca.

Ele, contudo, limitando-se a balançar a cabeça para os lados, negou o beijo. Queria postergar aquele momento a todo custo.

Ato contínuo, colocou Márcia deitada no sofá e passou a beijar-lhe o corpo sem qualquer pressa.

Começou pelos seios, desceu para barriguinha,  uma rápida passada pelo ventre, coxas, pézinhos 35, coxas de novo, ventre, seios, ventre... e assim sucessivamente.

Márcia não demorou muito a perder o controle; pelo contrário, logo teve um orgasmo forte o bastante para lhe fazer berrar.

Em seguida, ainda sob o testemunho da inconveniente árvore de natal, transaram no sofá.

Márcia estava extasiada

E, com o primeiro sinal de relaxamento, pôs-se a chorar freneticamente. Soluçava. 

Porém, tão logo se acalmou, abriu um sorriso satisfeito para Marcelo, que, enfim, tascou-lhe um beijo

Foi um beijo lento; um beijo ao mesmo tempo doce e salgado; foi "o beijo".

Ambos sorriam.

CONTINUA...

quinta-feira, 26 de março de 2020

A condição - CAPÍTULO 3

"Fala logo de uma vez", pensou Marcelo.

- A condição é uma só... - disse Márcia, após alguns segundos de silêncio que mais pareceram décadas.

Em seguida, continuou: - Eu só vou me envolver amorosamente com você se prometer não contar nada a ninguém. Ninguém!!! Ouviu?

- Trato feito! - decretou Marcelo, rapidamente, com uma certeza de dar inveja aos librianos de plantão.

Agora mais sisuda, Márcia disparou: - Se eu suspeitar que alguém sabe sobre a gente, eu nunca mais encosto um dedo em você. Nunca mais. Estamos entendidos?

- Ninguém ficará sabendo de absolutamente nada. Juro pela alma de meus ancestrais.

- Ok - assentiu ela, agora já acompanhada de um sorriso malicioso.

Márcia não disse mais nada. Apenas levantou-se, largou a já cansada taça de vinho e soltou as alças do vestido rodado que envolvia seu corpo.

Seu corpo, como Marcelo suspeitava, era de uma beleza surreal.

Parecia ter sido esculpido a mão por um artista renascentista

Praticamente o molde da mulher ideal.


Marcelo, que assistia a tudo incrédulo, engoliu em seco.

Tesão, nervosismo, euforia, ansiedade, paixão: uma gama de sentimentos rasgava-lhe o peito sem qualquer compaixão.

A mulher que desejou por anos a fio, e por quem nutria uma paixão avassaladora, ainda que platônica, estava de pé, em sua sala, completamente nua.

Aparentemente, havia chegado, enfim, os tão aguardados dias de glória.

Obrigado, senhor! - disse Marcelo a si mesmo, baixinho, antes de partir para o ataque.

CONTINUA...

quarta-feira, 25 de março de 2020

A condição - CAPÍTULO 2

Ainda atônito e sem saber o que dizer, Marcelo limitou-se a deixá-la entrar em seu QG.

"Eu não acredito que a Márcia está na minha casa" - repetia para si mesmo, em pensamento, numa espécie de mantra particular.

A casa estava uma bagunça sem precedentes, é claro.

Mas Márcia parecia não ter se importado muito, tampouco Marcelo que, a essa altura, urrava por dentro.

Sentia-se um adolescente e, como tal, não sabia ao certo como se comportar.

No melhor estilo Sr. Miyagi, cruzava as pernas, descruzava as pernas

Definitivamente, estava nervoso.

Ela, por outro lado, carregava consigo um sorriso indelével.

A energia que emanava daquela mulher era quase suficiente para acender as luzes do pinheiro de natal que guarnecia a sala há ininterruptos três anos.

A essa altura, Márcia sabia que tinha seu vizinho na mão. E, claro, parecia estar se divertindo com isso.

Pouco falavam, muito bebiam.

Até que Márcia, após um cruzar de pernas tão clichê quanto espetacular, quebrou o silêncio:

- Vou ser bem direta. Vim até aqui por um motivo bem específico...

- E qual seria esse motivo? - retrucou Marcelo de bate pronto.

Quase em câmera lenta, Márcia mordeu os lábios de um jeito sexy o bastante para iniciar um processo de autocombustão em Marcelo. 

Em seguida, sem qualquer cerimônia, aproximou-se do ouvido de Marcelo e sussurrou:

- Eu quero você... Quero muito...

Marcelo estava incrédulo. Era bom demais para ser verdade. 

Ele mesmo reconhecia que não era merecedor de tamanha dádiva.  

Contudo, antes que pudesse esboçar qualquer reação, Márcia disse-lhe:

- Só tem uma condição.

- Que condição? - tornou a perguntar ele, agora curioso.

Então... - respondeu Márcia.

CONTINUA...

terça-feira, 24 de março de 2020

A condição - CAPÍTULO 1

Marcelo nutria uma espécie de paixão platônica por Márcia, sua vizinha.

Todos seus amigos e familiares sabiam disso. Afinal, não fazia qualquer questão de esconder o quão aquela mulher, com quem sequer tinha trocado meia dúzia de palavras, retirava-lhe o chão.

Não era para menos, já que Márcia era um acinte de tão incrível.

Não se tratava apenas de beleza, embora esse fosse o seu grande carro-chefe

Era o jeito de Márcia que arrebatava Marcelo. O jeito ao mesmo tempo doce e atrevido em doses nada homeopáticas.

Como toda paixão platônica que se preze, porém, resignava-se ao plano teórico.

Marcelo jamais teria coragem de se declarar a Márcia. 

Jamais.

Ouvir um sonoro não daquela boca seria demais para ele. Para qualquer um, na verdade.

Marcelo era um sonhador, e, como tal, preferia sonhar.

Além do que, não se julgava nem um pouco digno de uma mulher tão teoricamente perfeita.

Certo dia o certo dia sempre chega, contudo, Márcia ficou sabendo das não intenções de seu vizinho, o que a deixou curiosa.

Como toda mulher interessante, achou "fofo".

Não satisfeita, algumas semanas depois, resolveu por bem dar uma chance a Marcelo.

Então, com uma cara de pau sem precedentes, e munida de uma garrafa do seu melhor Malbec Argentino, colocou uma roupa sensual e tocou a campainha do apartamento de Marcelo.

Marcelo não escondeu a surpresa ao abrir a porta. Definitivamente, não acreditava no que seus olhos insistiam em lhe mostrar.

Não vai me convidar para entrar? - perguntou Márcia alguns segundos depois, num misto irresistível de timidez e ousadia.

Havia chegado, enfim, a vez de Marcelo.

Será mesmo?

CONTINUA...