sábado, 18 de abril de 2020

O mundo dá voltas e eu posso provar

O mundo dá voltas e eu posso provar.

Em um fim de semana qualquer de 1998, eu e minha irmã resolvemos visitar alguns amigos/parentes em Porto Alegre, nossa cidade natal.

Como havíamos trazido toda a mudança para Santa Catarina, o apartamento onde morávamos ficou guarnecido com apenas alguns poucos móveis, além de alguns objetos abandonados.

Dentre esses objetos, havia alguns discos de vinil. E, dentre estes, o famoso álbum branco dos beatles.

Antes que me xinguem, e para contextualizar, gostaria de dizer em minha defesa que vinis não eram tão valorizados na época, assim como que eu não gostava tanto de beatles.

Pois é.

Voltando ao assunto, tomei a brilhante decisão de vender o disco para um conhecido, sem anuência dos meus pais, pelo equivalente a uns R$ 50,00 nos dias de hoje, talvez menos.

Com o passar dos anos, contudo, para minha desgraça particular, não apenas passei a ouvir vinis como também virei um grande fã de Beatles.

Logicamente, então, acabei me arrependendo (e muito) de ter vendido o vinil. 

Arrependimento, aliás, foi a primeira sensação que me acometeu assim que comprei o toca-discos.

Onde eu estava com a cabeça, afinal?

Ocorre que - prestem atenção agorao conhecido para quem vendi o disco, por uma dessas coincidências da vida, é filho do atual marido da minha mãe (também conhecido como meu padrasto). 

Não bastasse isso, recentemente, meu padrasto, na falta de uma palavra melhor, "confiscou" do filho o aparelho toca-discos que lhe pertencia e os vinis que o acompanhavam.

Dentre esses vinis, claro, encontrava-se o bendito álbum branco dos beatles que eu, clandestinamente, havia vendido anos antes.

E hoje, ainda que por empréstimo, o disco em questão está aqui comigo, na minha sala, repousando em berço esplêndido.

Sim, ele está aqui comigo novamente mesmo depois desses anos todos.

Isso só prova que o mundo, de fato, está em constante movimento.

E que nada é definitivo. Nada.

Como diria o filósofo Badauí, "o mundo dá voltas".


Ps. Pai, se você está lendo este texto, e eu sei que está, não fique chateado, pois o disco em questão iria se perder como todos os outros, não? (rindo, mas de nervoso).


domingo, 12 de abril de 2020

A derrota do dinheiro

Nem um roteirista de gosto duvidoso seria capaz de criar uma história tão clichê.

Um vírus mortal, surgido em uma província chinesa qualquer, na manifesta ânsia de mais uma seleção natural, faz uma devassa na população.

Milhares de vidas sendo ceifadas enquanto cientistas, no mais aceitável dos atos de vaidade, disputam para ver quem conseguirá estampar seu sobrenome numa possível vacina capaz de curar/imunizar a população.

Já devo ter visto esse filme na sessão da tarde umas três vezes, pelo menos.

É simplesmente surreal pensar que, neste exato momento, grande parte da população mundial esteja trancada em casa.

Todos reféns de si mesmos.

Enclausurados em suas próprias residências, seja por medo da morte, seja pelo receio (empático) de repassar o vírus às quatro pessoas que fazem parte de sua média de contágio.

Até mesmo grande parte de nossos governantes (os sensatos, pelo menos), num ato tão benevolente quanto surpreendente, ordenaram às pessoas que se isolassem.

Fiquem em casa, eles disseram.

Como se fossem fiéis cumpridores da Constituição Federal, dos famosos Pactos Internacionais ou mesmo de eventuais Leis Divinas (quem sou eu para cravar se elas realmente existem?), colocaram a vida em primeiro lugar.

Mesmo cientes de todos os problemas que acompanharão esse "sacrifício da economia" (desemprego, fome, criminalidade, etc), ao menos uma vez, uma única vez, o dinheiro foi deixado de lado.

Optou-se por privilegiar o bem mais precioso e inegociável, aquele que nem todo dinheiro do mundo é capaz de comprar: a vida.

E isso nunca deixará de ser uma vitória do ser humano.

Apesar de toda tristeza, não deixo de sentir um certo orgulho de ter feito parte desse peculiar pedacinho da história.

Por mais ingênuo que isto soe: ainda há esperança.

Só nos resta, agora, fazer nossa parte e torcer para que esses dias sombrios acabem logo.

Amém.