sábado, 3 de outubro de 2020

Velocidade 37

Só quem trabalhou durante a faculdade sabe como a tarefa é extenuante.

Conciliar estudos e trabalho, definitivamente, não é para os fracos, especialmente se você levar ambos a sério.

Quando você mora longe da Universidade, então...

Levava cerca de uma hora e quinze de onde morava até a Universidade. Uma hora e quinze!

E, por mais que existam pessoas que façam um esforço muito maior - pedalar quilômetros, pegar dois barcos, etc -, uma hora e quinze de ida mais uma hora e quinze de volta continua sendo tempo demais para um homem médio como eu.

Canso só de lembrar.

Lembro-me, também, de que com o avançar da faculdade, na tentativa amenizar esse cansaço, eu e alguns colegas resolvemos ir de carro em alguns dias da semana. Geralmente, no dia do estágio obrigatório, que, via de regra, fazíamos na sexta.

Com o passar do tempo, acabamos criando o hábito de beber no carro durante a volta.

Parávamos em praticamente todas as conveniências espalhadas pelo caminho.

Isso mesmo, voltávamos da faculdade bebendo uma birita durante o trajeto.

Menos o motorista, claro. Será? Fica a dúvida.

O hábito em questão, que, provavelmente, deve ter sido ideia minha (risos), acabou tornando o longo percurso faculdade-casa bem mais leve.

No mínimo, mais divertido.

Além do que, sob essas condições, aquela hora e quinze parecia passar bem mais rápido do que o habitual. 

Parafraseando Zé Ramalho, "Einstein explica".

Outro hábito que criamos - este, tenho certeza, iniciado por mim - era tentar passar nas infinitas lombadas eletrônicas distribuídas pelo caminho a exatos 37 km/h.

Sei lá de onde tirei essa ideia (tédio, talvez), mas o fato é que tentava passar a 37 km/h em todas as lombadas.

E isso, por mais bobo que soe, era divertido. Até porque, eu era particularmente bom nisso, o que não é muito comum.

Nunca contei isso para ninguém, mas, mesmo tendo se passado 13 anos desde então, ainda hoje, não resisto ao "desafio" de tentar passar a 37 km/h nas lombadas eletrônicas da vida.

Por que continuo fazendo isso? Não sei.

O que eu sei é que, sempre que consigo tal façanha - que, convenhamos, de façanha não tem nada -, abro um largo sorriso.

E, claro, lembro desses raros momentos de felicidade que a faculdade me proporcionou.

Daquele tempo em que dávamos uma breve pausa na correria  do dia a dia para vencer as lombadas em relativa baixa velocidade.

Em exatos trinta e sete quilômetros por hora. 

Nem mais, nem menos.


Um comentário:

Rita de Cássia disse...

Crenças,37km/h? 🤣🤣🤣🤣🤣