segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Criciúma sitiada e a bela adormecida

Desde que me conheço por gente, sempre tive um sono extremamente leve.

Do tipo que acorda com o bater das asas de uma borboleta.

Característica essa, aliás, que sempre odiei com todas as minhas forças.

Inveja branca é pouco para definir o que sinto pelas pessoas que dormem, profundamente, sob toda e qualquer circunstância.

Na madrugada do dia 01/12/2020 - meu deus, 2020 já foi? -, contudo,  a história foi outra

Como sabemos, nesse dia específico, Criciúma passou por uma situação bastante incomum.

Sem exagero, foi o cenário de um dos maiores assaltos da história de nosso país - só perdeu para o campeonato brasileiro de 2005.

Bandidos fortemente armados, sem qualquer cerimônia, praticamente sitiaram a Cidade, causando verdadeiro pânico na população.

Literalmente, tomaram a Cidade de assalto.

Para tanto, valeram-se de tiros; reféns; carros blindados; quilos e mais quilos de explosivos, dentre outros.

Há quem diga que até mesmo uma bazuca teria sido utilizada pelos assaltantes na ação criminosa.

Uma bazuca, mano

Surreal.

Meus vizinhos, já na manhã seguinte, relataram ter escutado diversos tiros. Algo absolutamente normal, já que, em linha reta, devo morar cerca de um quilômetro e meio do local onde se deu a ação dos assaltantes.

Ocorre que, mesmo sendo a pessoa com o sono mais leve do mundo, não ouvi um único estampido sequer.

Absolutamente nada. 

Como diria Charles Master, "Zerooooooo".

Para ajudar, meu celular estava no silencioso, de modo que só tomei conhecimento do ocorrido na manhã seguinte, quando me deparei com 74 ligações não atendidas e mensagens variadas da minha namorada, que, aparentemente, estava bem preocupada com a minha pessoa - o que é sempre bom (risos).

Não fossem os helicópteros sobrevoando a Cidade logo cedo, assim como as mensagens dos amigos/familiares, talvez achasse que fosse algum tipo de brincadeira coletiva de gosto duvidoso.

Então, ainda boquiaberto com o que via no noticiário, e com os vídeos que inundavam meu aparelho celular, pus-me a refletir sobre o fato de não ter acordado.

E logo pensei que, se um dia rodarem um filme sobre o assalto, certamente terá uma cena exatamente igual, que, obviamente, será interpretada por algum ator desconhecido recém promovido da figuração.

O mundo lá fora desabando e a bela adormecida aqui dormindo.

D - O - R - M - I - N - D - O!

Embora ainda esteja inconformado com isso, conforta-me o fato de que alcancei o tão desejado sono pesado.

De que dormi, ao menos uma noite, no sono mais ferrado possível.

No futuro, quando alguém me perguntar como foi o tão famigerado assalto, poderei enfim encher o peito e dizer: 

- Não sei, estava dormindo...

E finalmente poder me gabar por ser mais um desses que não acordam assim tão fácil.

Amém.